O Pessoas

Hoje, numa manhã de um Fevereiro chuvoso, deram-me a conhecer a vida física de Fernando Pessoa. Digo física, pois as outras vidas de Pessoa, a meu ver, foram bidimensionais em papéis despojados na sua “royal” máquina de escrever. Mas, ao repartir a alma ou as almas se assim o desejarem, em letras da forma que este o fez, pertencerão ao imaginário ou ao real?
O guia, enquanto falava sobre a infância de Pessoa na sua casinha escondida em sua aldeia, eu, imaginava uma criança pálida, magricela e de pernas compridas, vestida com trajes da altura a correr e a brincar com a sua máquina de escrever, descendo até ao rés do chão ouvindo escondido o que se passava na sede republicana que ali habitava. Indo com a mamã e o papá critico de arte ao teatro ali perto. Desde menino, enriquecendo a sua auto e hetero critica e a sua vida social e cultural.
Visitámos a igreja onde foi baptizado e chegou-me logo á mente um bebé, nos braços de uma mulher, inquieto, com água a escorrer pela cabeça de fraco couro cabeludo e pessoas vestidas a rigor para a ocasião, umas limpando os olhos com lenços de pano emocionadas, outras felizes e outras ainda indiferentes espalhadas por toda a igreja. Igreja esta que servia como um megafone ao chorar da criança. Nasceu no mesmo dia do que Santo António e o seu interesse e culto pela religião católica foi numa primeira fase importante para ele, mas depois teve uma ruptura acentuada com esta.
Percorremos os caminhos frequentes de Fernando pessoa na baixa de Lisboa, desde uma tabacaria de nome não recordado, onde este comprava os mantimentos para um dos seus vícios, até ao café de nome “a Brasileira”. O primeiro café que Fernando Pessoa teve contacto, e, sempre este ia lá para o seu cafezinho e o bagacinho acompanhante, por vezes também discutia e resolvia negócios, ali, na sua mesa reservada no seu mais precioso café.
Ao longo do percurso, o nosso querido guia dava-nos a ler poemas do escritor. Poemas estes que se enquadravam no respectivo local visitado. Ninguém os queria ler, penso que por vergonha ou por estar frio e as cordas vocais estarem geladas, talvez. Mas depois de um silêncio havia sempre uma alma caridosa que o aceitava ler. Eu fui um deles, todo feliz por fazer algo que me contribuía para a nota, mas, vendo bem o meu azar, errei ao prenunciar consequentemente o nome rei Cheops no poema “chuva obliqua III”, prenunciando “rei Xeops”!
Ninguém presente disse nada, uns por boa educação, outros por nem tomarem atenção. Senti -me envergonhado e estúpido.
No final da visita, a professora de história, Michelle, falounos de uma historia interessante sobre a morte do poeta. Fernando Pessoa foi também um excelente astrólogo. Conseguiu calcular o dia da sua morte. Falhou por dois dias.

Tirando a chuva, o ruído (quer dos automóveis quer por parte dos colegas) e o facto de estarmos sempre em pé, foi muito proveitoso.
Estar onde passados lusitanos nossos também estiveram e conviveram, foi para mim uma experiencia interessante...como se o passado e o presente fossem o mesmo. ao sair do café "a Brasileira" senti, que poderia muito bem, cruzar-me na porta de entrada com o Fernando pessoa numa das suas rotas diárias para o seu bagacinho acompanhante.



Terça, 3 de Fevereiro

Elemento essencial

No âmbito da disciplina de português, os alunos ficaram de escolher um elemento (terra, fogo, água e ar) reflectir e explorar esse mesmo. o meu elemento escolhido foi o Ar.
Eis agora a descodificação deste, que, também responde á mensagem anteriormente postada: Quanto ar vi hoje?


"Ar é o elemento incorpóreo, gasoso. Por isso, tem muitas associações e significados correlatos. O ar tem uma denotação muito específica quanto à substância que respiramos, com uma composição química de 78% de nitrogénio, 21% de oxigénio e, ainda, pequenas quantidades de dióxido de carbono, vapor de água e gases inertes. O ar também pode ter o maior e o menor significado específico da atmosfera que envolve a terra. O ar pode lembrar a respiração, mas também o vento, o alento da natureza. Quando as pessoas dão-se "ares" de protesto, elas o exprimem em voz alta e em público, portanto, o ar também tem conotações expressivas e reveladoras. Quando dizemos que há alguma coisa no "ar" queremos dizer que é externa e disseminada ou que não é fixa nem certa provocando-se não apenas incerteza, mas também expectativa. Dizem que as pessoas que "vivem nas nuvens" são felizes. Embora ter um ar de segurança possa ser um acréscimo, dar-se "ares" é decididamente negativo. A palavra "aéreo" tanto pode designar um estado de humor quanto uma pessoa leve e jovial ou excêntrica e extremamente especulativa (como ao "construir castelos no ar").
Sendo um dos quatro elementos, a natureza do ar proporciona muitas das associações acima. Embora seja extremamente estável na sua forma mais pura, sua composição se altera com o aumento da altitude e em espaços fechados, onde é utilizado por plantas e animais.
O ar pode ser considerado o elemento mais amistoso e necessário, misturando-se bem à terra e à água, sendo essencial para a existência do fogo."


PS: todo este conteúdo foi retirado do sitio http://www.misteriosantigos.com/ar.htm


Sábado, 24 de Janeiro

Decisões

Estava eu sentado, baloiçando-me na minha cadeirinha de secretária, meditando se deveria abrir um taparowear, ou se desligar o computador. Que fazer? Infinitamente indeciso, tentei resolver o problema, fui dançar!
Estava eu a dançar, contorcendo-me como uma cobra-capelo, quando de repente cai, colado ao chão de fronha enterrada e nariz entortado, pois o chão não era gentil e não abriu uma moça para poder ter o nariz confortável. Levantar-me? Deixar-me estar? Que fazer? Sentei-me!
Estava eu sentado, naquele chão de madeira velho e ranhoso, quando o meu nariz se descolou da cara. Coitadinho, estava todo torto! Fita-cola? UHU? Super cola? Que fazer? Colei com cuspo!
Estava eu agora feliz da vida quando me levantei e fui até á sala. Sentei-me na ombreira e liguei o retrovisor. Avariado?! O retrovisor avariado? Esperem...pois é, as salas não têm retrovisor. Que fazer? Corri ás voltas pelo sofá. Problema resolvido!
Estava eu a correr ás voltas, quando de repente me senti estranho, estava cansado. E agora? Que fazer? Sustei a respiração.
Estava eu agora, entretido a não respirar, de cara rocha, veias do tamanho de alfaces e olhos como ovos a estalar quando de repente me senti aborrecido, e agora? Que fazer? Desmaiei. Problema resolvido!
Sempre me orgulhei da minha capacidade de tomar decisões, era sem dúvida um artista nato para o efeito.
Estava eu a flutuar no escuro, sentia-me leve e encaracolado. E agora? Que fazer? Acordei!
Abri os olhos, e ali estava eu, deitado nas costas de um doutor, enquanto que um cirurgião me abria a barriga. E agora? Que fazer? Atirei o cirurgião para dentro da minha barriga e sai do hospital a deslizar! Sentia-me um pouco pesado e de repente tudo
estava mais claro…tanta claridade! E o meu ombro começou a abanar ligeiramente! Que fazer?! Que fazer?
- São horas de acordares – Disse a minha mãe.


Terça, 20 de Janeiro

Quanto ar vi hoje?

Ar…ar…quanto ar vi hoje? Foram vários! Não…sim! Sim, foram vários de certeza! Um só? Hum…daquela magnitude…será o ar um todo? Um todo titânico! Constante na sua rota. Vigilante. A sua fúria e a sua calma correndo de lés a lés. Mantos de terra esbeltamente curvos, lisos, montanhosos, traiçoeiros, seguros, alegres, tristes, secos, húmidos, dourados, verdejantes…hum…talvez.
E se o for assim, porque será que já ouvi: “está uma mudança de ares aqui.”, ou “Não vás para lá, é de maus ares!”.
Quando bebemos um café quentinho…quando alguém boceja na nossa cara… quando nos encontramos na situação de sardinha enlatada no comboio do metro…quando alguém levanta o braço, exibindo a sua linda axila para se segurar… Respiramos ares ou partes do ar? Um conjunto de pessoas? Uma comunidade. Um conjunto de ares… o Ar?


Sexta, 16 de Janeiro

Tudo por uma boa nota

É bom ser-se pequenino. Inconsciência. Ingenuidade. Viver para si mesmo e não para os outros. Quase sem quaisquer deveres perante terceiros. Quando era pequeno, a única obrigação que eu sentia que deveria cumprir era a hora da caminha, porque se não o fizesse vinha logo de lá o chinelo! Bons tempos…bons tempos. Lembro-me de como me sabia bem acordar e ter o leitinho no biberão prontinho para descer até à barriguinha. E logo a seguir, vinha o tão típico arrotar de pequenino. O meu primeiro aniversário?! Não me lembro muito bem, digamos que…quase nada. Lembro-me de me babar, o que para mim era normal, e de ver cabeças, muitas e muitas cabeças de sorrisos rasgados …foi um pouquinho assustador.
E o primeiro dia de aulas? Pois é, nunca se esquece o primeiro dia de aulas! Não fazia a menor ideia do que era uma escola e o que se fazia, mas estava excitado na mesma. Fiquei deslumbrado com a cresce. Só diversão! Tirando as partes em que era um cheiro a comida digerida por parte de outros bebés…enfim…e o primeiro dia de adolescente?
Para mim o meu primeiro dia de adolescente foi quando acordei e tinha uma borbulha do tamanho de um berlinde na testa…não foi muito agradável, o contraste daquilo…era o mesmo de ver uma bola de basketball no meio do macio e brilhante estádio vazio. Mas para mim ter acne já é normal. E também já é normal ter uma rotina diária escolar. “Trabalhar como se não houvesse amanhã!” O lema da humanidade. Concordo, é o desenvolvimento a todos os níveis que nos faz progredir, mas, será que essa progressão é a correcta? Outrora pensava-se que os carros não faziam mal ao ambiente.
Cada ano que passa, é mais um passo para adulto e a vida de consciência e deveres. Sinto-me nessa transição. E meio perdido, confesso.


Quinta, 15 de Janeiro